“FACESCAPES, onde sigo uma tradição humanista de me aproximar profundamente do sujeito, criando paisagens de rostos, rostos como um campo, revelando contornos e vales como uma vista aérea de qualquer terreno. Mas por detrás destas abstrações, o meu desejo é revelar a universalidade da condição humana, uma forma de observar a distância percorrida pelo relógio humano.”

Seria a nossa aldeia, minha para o Facescapes e de Frederic para a sua eco aldeia.

Nove meses mais tarde voltei durante um mês para produzir o meu China FACESCAPES, acompanhado pelo meu intérprete australiano chinês e por um assistente de som e imagem. O projeto correu muito bem, conhecendo, filmando e entrevistando a população local. No entanto, nunca cheguei a concluir totalmente as entrevistas, pois adoeci e tive de ser levado para Hong Kong, onde passei três semanas a recuperar. Apesar disso, tinha alcançado o meu objetivo, embora não tivesse terminado todas as entrevistas e filmagens que planeei.

Um ano depois, Frederic tinha praticamente desenvolvido todo o seu projeto extraordinário. Dentro do conceito desse projeto existia um programa de residência artística. Quando Gonçalo Leandro da WOA, que estava a organizar a residência, me perguntou se eu gostaria de nomear dois artistas para se juntarem à iniciativa, incluí imediatamente o meu próprio nome, bem como o de Michel Batlle, um dos artistas locais com quem trabalhava no programa de residências PADIES. Estava muito curioso por ver como o projeto tinha evoluído e que mudanças tinha trazido à aldeia. Era também uma excelente oportunidade para explorar uma ideia que queria expandir para o Facescapes.

Foi maravilhoso ver o entusiasmo e a inspiração que os artistas sentiram ao descobrir JiuXian e a China. Não há dúvida de que desenvolver um projeto na China, especialmente no contexto de uma residência artística como a de JiuXian, representava uma oportunidade extraordinária. Todos os recursos estavam disponíveis, a escala era praticamente ilimitada e os custos eram surpreendentemente baixos, permitindo aos artistas aceder a materiais e competências práticas e técnicas que seriam economicamente impossíveis nos seus próprios países. Os artistas dedicaram-se plenamente à experiência. O sentido de comunidade era muito forte, com apoio mútuo às ideias e ao trabalho de cada um, e cada artista desenvolvia a sua abordagem única.

Eu assumi mais o papel de observador. O isolamento da aldeia deu-me a oportunidade de refletir sobre a forma como queria avançar e também de participar no conceito de land art que orientava a residência. Enquanto explorava o meu conceito para o Facescapes, aproveitei para filmar alguns acontecimentos locais, um funeral, uma visita escolar, os artistas em trabalho e outros momentos da vida quotidiana. Através destas observações desenvolvi o conceito para uma instalação que integraria Facescapes, a aldeia e o misticismo que a envolve. Registei histórias locais de misticismo e mitos das montanhas, que pretendo misturar com sons da natureza, especialmente o som da água sempre corrente que é único nesta aldeia. Tudo isto será incorporado na instalação através de projeções múltiplas e fragmentos de som, dentro de uma sala simbólica de cinco metros quadrados. É um projeto entusiasmante. Consegui recolher material suficiente para o concretizar.

Agora, longe da quietude de JiuXian, preciso de encontrar tempo para dar vida a este projeto ambicioso. Acredito que irá imergir o espectador na energia da aldeia, na sua tranquilidade, na sua beleza, nas suas pessoas e no seu misticismo.

Conseguir isto tornaria a experiência de JiuXian totalmente perfeita.