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vasco luz para o projeto jiu xian garden village na china
“Um destes dias, ao caminhar por um dos vales que circundam JiuXian, deparei-me com uma raiz. À primeira vista, chamou-me a atenção pela forma como se destacava na relva. Em estado contemplativo, observei-a, e sem demora, ela ocupou os meus pensamentos. Ficava assim lançada a semente para o desenvolvimento do meu trabalho e para a marca que deixaria neste espaço que já me proporcionara sensações tão intensas. Senti de imediato que algo nascido deste lugar me conduziria a uma nova clareza. Tinha a certeza de que o meu trabalho estaria profundamente ligado ao espaço, num nível semelhante à minha visão de qualquer intervenção artística num cenário de tal magnificência. Senti-me completamente definido e aceitei essa certeza com serenidade.”
Vasco Luz
Wood Designer
"Root"
De repente, e porque sempre o soube, qualquer ideia pré-concebida sobre a forma de abordar esta intervenção foi deixada de lado. Não me parece, e nunca me pareceu, sensato tentar projetar um trabalho a doze mil quilómetros de distância, a partir do topo de uma cidade ruidosa e poluída. Como imaginava, o próprio espaço encarregou-se de me orientar para aquilo que ele desejava alcançar, em seu benefício, com a minha ajuda. Tenho sempre um lado mais prático do que teórico quando se trata de executar e conceber uma peça. Neste caso, acredito que ambas as dimensões têm igual importância. A execução serve a natureza da obra, e a sua definição exige esta construção material para que possa existir e ser compreendida.
A raiz torna-se a base sustentável da própria vida. Esconde-se para oferecer a segurança necessária a quem dela depende. Permanece invisível e oculta as suas inúmeras formas. Sob os nossos pés vivem momentos extraordinários que não vemos. A árvore é o espelho das suas raízes, o mundo virado do avesso onde prevalece uma escuridão necessária. A raiz aguarda a luz para poder oferecer aos olhos mais atentos uma compreensão plena deste estado já iniciado. Fazemos parte de um ciclo que nos inclui e do qual dependemos. Ele existe antes sequer de o podermos compreender.
Reproduzir o efeito emocional e reflexivo daquilo que escapa ao nosso alcance é a intenção deste trabalho. Não somos princípio nem fim. Somos a realização daquilo que nos sustém. Somos, de um modo ou de outro, limitados pelas nossas raízes, dependentes da sua estrutura para evoluirmos. Fico absolutamente fascinado com a forma como a natureza impõe as suas características sobre nós. Não podemos determinar o seu comportamento nem fugir a esta condição. Sabemos apenas que existem relações definidas, e que as suas manifestações revelam e implementam observações extraordinárias. A raiz orienta-se pelo seu propósito, perfeitamente estabelecido e necessariamente eficaz nos seus fins.
Quanto aos materiais escolhidos para o desenvolvimento da obra, madeira, ferro e terra ou argila compõem o seu núcleo forte, dependente das condições atmosféricas que certamente o influenciarão. O corpo principal é de madeira, o material com o qual mais me identifico e com o qual mantenho uma relação íntima. Num movimento espiralado, contínuo e entrelaçado, a peça ganha vida com a direção escolhida para as suas extremidades. Ao tentar recriar o elemento descoberto, o trabalho pode ser confundido com qualquer outro ser ou objeto, uma perceção que habitará a imaginação do observador. O ferro surge como elemento oculto, reforçando as várias uniões da estrutura, estando também presente no seu ambiente natural. A terra, infiltrando-se nas cavidades expostas, revela-se o elemento mais flexível e adaptado, encontrando os seus próprios meios de desenvolvimento. A peça não se encerra no termo da sua construção; permanece serena, orientada para continuar a crescer.
Depois de muito refletir sobre a forma que pretendo dar a este trabalho, chego à conclusão mais evidente: tal como uma raiz no seu meio natural, que não segue uma linha de progressão definida e que, perante todos os elementos e adversidades que encontra, se molda para existir, também a minha obra será desenvolvida. O seu desenho final será uma extensão da sua própria vontade. As suas curvas adaptar-se-ão ao momento da sua criação.
sobre o artista
Vasco Luz, nascido em 1980, é um artista e artesão formado pela Fundação Ricardo do Espírito Santo Silva, que cedo expandiu a sua prática para outros universos ao aplicar a sua técnica no domínio da escultura artística.
A suavidade do seu corte conduz-nos a uma profundidade orgânica intimamente ligada à natureza, revelando a sua capacidade singular de fazer emergir a força das suas obras ao mesmo tempo que as integra harmoniosamente no lugar que habitam.