tim madeira para o projeto jiu xian garden village na china

"De pilares de madeira destinados à construção de um novo museu e de materiais reciclados, emergiu o meu trabalho, ligado à natureza e ao imenso respeito que o lugar e o projeto exigiam."

Tim Madeira
Artista Multidisciplinar

"Tenho um pequeno bosque em terras distantes do Oriente..."

Pelo imenso respeito…

…pelo sonho de um homem e de uma mulher que permitiram que outros também pudessem sonhar.

À Iiwi, a minha flor, que continua a não acreditar que eu não tinha um projeto.

À Sissi, com o seu sorriso enigmático e tão cativante.

À Lizzie, cuja escrita continua a acompanhar-me através das memórias passadas e das futuras que ainda virão.

Ao Wang, que traduziu um projeto inteiro e 26 dedicatórias escritas.

Ao Jason Chen, com respeito.

Ao Tatoo, tão verde e tão distante…

À Duma, um encanto improvável nos momentos de nostalgia.

À Marta, por tantas fotografias nos primeiros projetos.

Ao Gonçalo, o mentor deste projeto… que maravilha é sonhar e tornar esta realidade tão melhor.

Ao Artur, o homem prático que acredita nos sonhadores.

Ao Nicolas, o enigmático louco.

Ao Fonze, ainda mais louco e absolutamente excecional.

Ao Denis, o homem de um mundo que todos gostaríamos de conhecer.

Ao Daughan, e às minhas meninas, onde tudo foi sempre moldado pela paleta da escrita tradicional chinesa, que me acompanha e continuará a acompanhar, para que eu não esqueça, na minha casa, tão longe e tão perto da nossa arte.

Aos taxistas… obrigada pela música que acabei de ouvir.

Ao caminho da montanha… pelo que sonhei naquele dia de confiança, onde compreendi a verticalidade e o êxtase deste património natural.

À Casa das Lanternas Vermelhas… onde todos os dias se faziam sonhos e onde também sonhei e pintei num estúdio improvisado, onde o chão já pertencia às minhas pinturas.

Ao restaurante e ao meu amigo, cujo nome não me lembro, mas que isso não importa, onde comi, vivi e o conheci, e que espero reencontrar um dia, em memória dos tantos momentos que partilhámos, junto às brasas que sempre me esperavam ao final da tarde.

Às aulas e às crianças, à reciclagem e às emoções fortes de memórias vindas de África.

À Sara, com a sua espiritualidade intensa.

Ao Rui, meu amigo… com aquele olhar extraordinário voltado para o infinito.

À Filipa, com a sua sensibilidade indomável, com quem senti tamanha cumplicidade e… dança.

À Marina, com todo o seu encanto e mestria de grande mulher do Norte.

Ao Vasco, cujo trabalho não foi construído, mas encontrou o seu nicho acolhedor entre as rochas.

Ao Michel… a pessoa que melhor compreendi, com as suas três faces atravessadas de cor, e com quem aconteceu um almoço onde os pauzinhos eram pincéis, e onde todos nós, o grupo duro e persistente, fizemos nascer trabalho e amizade.

À Casa de Chá… pelo caminho que fiz todos os dias, respeitando o curso natural dos animais, criado também para os humanos por mãos habilidosas, e que me conduziu diariamente a um lugar extraordinário de vivências e sensações.

Ao Museu… pela cobertura invertida que os meus amigos carpinteiros executaram, sempre ajudando quando necessário, e cujo sorriso de amizade nunca esquecerei.

À Residência Artística… pelos uniformes onde o modernismo e a tradição de um povo que não sabe parar se cruzaram.

Ao Jardim Medicinal… cheio de sensações e aromas ancestrais. Às mulheres que o fizeram, que o plantaram e que tanto me ajudaram, onde os homens são apenas artesãos.

"8 publicações no meu jardim"

A partir de estacas de madeira destinadas à construção de um novo museu e de materiais reciclados, nasceu o meu trabalho, profundamente ligado à natureza e ao imenso respeito que o lugar e o projeto exigiam.

Fragmentos – Iniciaram um processo que se transformou num projeto que, para meu grande espanto, me fez recordar momentos extraordinários numa ilha distante de Moçambique, onde senti que o mundo é pequeno e frágil.

Ferro – Uma faixa de calcário branco sobre uma imensa rocha negra, tendo como pano de fundo os vestígios metálicos de um qualquer trabalho artesanal.

Limalhas – Representam a pura observação dos restos deixados pelo trabalho diário.

Latas – Produtos de uma civilização em excesso de consumo e um dos lugares mais estranhos e imundos que já conheci, com pessoas gentis e sorridentes que não compreendiam porque é que um estrangeiro compraria lixo e o carregaria ele próprio, entre risos, espanto e um diálogo impossível.

Potes – Vindos de uma olaria com um forno extraordinário, cuja luz incandescente encantava quando a parede de adobe que escondia as suas entranhas de fogo era aberta, como crianças perdidas ainda por nascer.

Plásticos – Porcos, sujidade e mau cheiro, restos humanos… sem mais comentários, sempre os mais visuais.

Azulejos – A assinatura de um artesão-artista no topo de um volume habitacional, uma assinatura sem paralelo.

O Número Oito – Pintado pela mestria de um povo… Sissi e Daughan, fruto de séculos de história, tradição e memória, com um significado associado à felicidade, ao futuro e à boa sorte.

No mais profundo da minha honestidade, o que sinto sobretudo é a nostalgia egoísta dos momentos e das pessoas que jamais esquecerei.

Viajar é, para além da experiência física da distância em relação ao lugar de origem, aceder a um estado emocional que oferece uma vivência única e enriquecedora do nosso capital de memória.

Descobrir novas realidades com o incentivo de desenvolver um projeto artístico é, sem dúvida, um benefício imenso que procurei aproveitar plenamente, tanto na vertente artística como pessoal. O tema proposto era entusiasmante na sua contemporaneidade, e o tipo de arte a adotar na concretização do projeto, embora historicamente anterior às vanguardas, era o mais evidente e apelativo tendo em conta a localização e as características do espaço a abordar.

Tudo se desenrolou à velocidade da luz na minha cabeça, num entusiasmo saudável que apenas intensificou a criatividade. Depressa surgiu a escolha dos materiais e do volume a adotar, e a construção da peça iniciou-se e evoluiu naturalmente até à sua instalação no local final.

Cada mastro/totem foi criado com uma idiossincrasia própria, refletindo as imagens e experiências proporcionadas pela passagem dos dias. Cada um, construído com materiais distintos mas revelando uma coerência voluntária, pode ser associado a um significado. Talvez esse significado não possa ser nomeado individualmente, mas a identidade singular de cada elemento converge num todo global que procurei transmitir, à minha maneira, inspirado pelo tema e pelo modo como a criatividade foi estimulada.

Parte essencial desta experiência foi a interação e a troca de vivências com os diversos participantes, colaboradores e habitantes. O valor mais profundo reside na partilha de olhares, conhecimentos e experiências pessoais e culturais.

A vida na aldeia deixou-me um legado inestimável. Acredito que o contacto entre participantes proporcionou a cada um de nós uma visão ampliada do nosso próprio trabalho e uma perceção mais rica das diferentes respostas aos mesmos estímulos.

Por outro lado, o contacto com todos os que estiveram presentes, quer no apoio logístico quer na participação ativa na concretização do projeto, revelou uma riqueza inesgotável.

Desde novas visões e interpretações de conceitos que eu julgava fechados, até à observação de diferentes formas de ver a vida e o mundo, ficou garantido um enorme ganho pessoal e profissional.

Entrar num táxi e o motorista escolher a música que fica na memória, ou aprender, observando os gestos intemporais do cozinheiro, como preparar uma iguaria típica, são novas pedras num pavimento multicolorido.

Um pavimento que construo sem limite de tempo, sem pressa e sem medida.

"sinais do tempo presente"

“Tim Madeira ergueu sinais e colocou-os frente a frente com a natureza imponente, num confronto desproporcionado, como objetos de uma arqueologia contemporânea que refletem certos aspetos daquilo que produzimos, vestígios do nosso tempo.

Assim, reunidos em torno de troncos, erguidos sobre mastros de madeira, em cachos de limalhas metálicas, fragmentos rombos de ferro e objetos cerâmicos extraídos de uma mistura de barro e outros materiais incomuns do nosso consumo, tornam-se, como escreveu Fernando Pessoa, “frutos de ferro útil da árvore-fábrica cosmopolita”.

Embora o processo criativo de Tim possa evocar o dos seus predecessores da Pop Art, ele renova-o ao deslocar esses objetos do seu contexto conhecido, transformando-os em elementos perturbadores no seio da natureza.

São esculturas, mas são também Land Art, onde os sinais fincados nas encostas das montanhas deixam de ser apenas objetos artísticos para se tornarem dispositivos que abrem novas leituras e novas perspetivas sobre a paisagem.

De certa forma, representam uma “integração/perturbação” que procura articular aquilo que a natureza sabe sobre si própria, mas que só consegue exprimir com palavras modestas, impercetíveis e naturais.

Assim, o artificial, recuperado através do seu gesto de resgate de objetos, falará na sua própria linguagem, nascida de fusões elétricas, revelando parte daquilo que ali devemos descobrir: a humanidade inscrita na paisagem.”

Michel Batlle
Artista/Escultor

sobre o artista

Tim Madeira, nascido em 1955, é um artista multifacetado que estudou na Escola Superior de Belas-Artes de Lisboa, completou um curso de comunicação visual no Ar.Co e licenciou-se em arquitetura na Escuela Superior de Arquitectura de Madrid, onde também frequentou disciplinas de pintura livre e desenho de estatuta.

A solidez da sua formação manifesta-se numa obra essencialmente ancorada na assemblage, onde a sobreposição e combinação de diferentes materiais revela uma abordagem conceptual e formal marcada por uma maturidade livre, descomplexada e profundamente intuitiva.

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